O ano de 2021 foi marcado pela retomada do consumo presencial. E, segundo a pesquisa realizada pela CNC, o setor de varejo, excluindo os Microempreendedores Individuais (MEIs), encerrou o ano com 2.407.821 estabelecimentos ativos, revelando, portanto, um saldo positivo de 204,4 mil registros em relação ao fim de 2020. Já o faturamento real do setor (no conceito ampliado) no último ano registrou o maior avanço anual desde 2018, compensando a retração verificada no ano retrasado.
No entanto, 2022 começou com um grande desafio. Diante da crise provocada pela guerra no Leste Europeu, a tendência é que as pressões inflacionárias se mostrem persistentes nos próximos meses, segundo a perspectiva da CNC. A previsão é que o setor supermercadista seja fortemente impactado pelos reajustes em commodities agrícolas e da possível escassez de fertilizantes, produto cujo a Rússia é um dos principais fornecedores. Considerando que o varejo de combustíveis e o setor supermercadista respondem por quase metade (48,5%) das vendas anuais no varejo, a CNC revisou para +0,5% a previsão de variação do volume de vendas do setor em 2022.
O comércio deve ter a ajuda do momento favorável para se recuperar, pois as vendas no setor voltadas para a Páscoa deverão totalizar R$ 2,16 bilhões este ano, representando um aumento de 1,9% em comparação a 2021. Ainda assim, caso seja confirmada a previsão, o resultado ficará 5,7% abaixo do alcançado antes do início da pandemia de covid-19, em 2019 (R$ 2,29 bilhões).
Os dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de janeiro de 2022, divulgada pelo IBGE, apontaram recuo no volume de vendas do setor de serviços, na comparação com dezembro de 2021. Já em relação ao mesmo mês do ano anterior, o segmento registrou crescimento de 9,5%, a 11ª expansão mensal consecutiva. A estimativa da CNC é que, com a maior permanência dos juros mais altos, o volume de receitas do setor de serviços apresente queda de 0,9% neste ano.
O turismo brasileiro já acumula um prejuízo de R$ 485,1 bilhões desde o início da crise sanitária e a expectativa da instituição é que, em 2022, o segmento apresente um crescimento no volume de receitas de 1,6%, percentual bem mais modesto do que os 22,1% registrados no ano passado.
O mercado de trabalho está sendo primordial para recuperação econômica. Contudo, dados apresentados pelo Caged apontam a geração de 328,5 mil empregos formais em fevereiro deste ano, resultado 17% menor em relação ao mesmo mês do ano passado. Além disso, os salários iniciais dos trabalhadores voltaram a cair.
Além dessa desaceleração, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurado CNC, recuou 1,3% em março, mantendo a tendência apresentada em fevereiro (-1,2%). Segundo o levantamento, os efeitos da inflação persistente e a recente transmissão do aumento dos combustíveis a outros preços são elementos-chave que explicam a evolução da baixa confiança empresarial.
Mesmo com as incertezas econômicas, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) registrou, em março, o terceiro aumento mensal consecutivo e o maior nível desde maio de 2020, de crescimento de 1,8%. Na comparação anual, o aumento foi de 5,9%.
Para arcar com os gastos desse maior consumo, a proporção de brasileiros endividados alcançou novo recorde em março. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), também apurada pela CNC, o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer alcançou 77,5% neste mês, a maior proporção já registrada nos 12 anos do levantamento.
A proporção de famílias com dívidas ou contas em atraso também alcançou o maior patamar da pesquisa, de 27,8%. Enquanto a parcela de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e, portanto, permanecerão inadimplentes também aumentou, alcançando 10,8% do total de famílias.
Durante o mês observou-se uma valorização do real, de 7,8%, beneficiando as importações e, consequentemente, os preços que dependem desses produtos. Esse movimento também ajuda a amenizar a inflação e a atrair investidores externos, tendo vários aspectos favoráveis para o país.
Artigo escrito pela Economista Catarina Carneiro da Silva